terça-feira, 24 de setembro de 2013

# relato 10: Emboscada

Não tive muito tempo para pensar.
Ao me virar só puder ver aquele tentáculo negro vindo em direção a meu rosto. Minha única saída era me jogar da sacada e o fiz. Não era possível, eu li B.O.B. na ficha, mas eu não era cego. Aquele que me atacou era quem eu mais queria ver.
Slender Man, finalmente a hora da minha vingança tinha chegado!
Espere um pouco. Eu ouvi um grunhido. O Slender não produz tal barulho. Até parece que alguém queria que eu estivesse ali e pensasse que fosse outra criatura. Aquele encontro havia sido planejado por alguém, mas nesse momento não importa. Eu estava onde queria.
Cai no chão, mas logo me levantei e corri para dentro da casa, já me deparando com a criatura que estava na sala.
Nos encaramos por alguns segundos. Ela parecia querer entender quem eu era. E eu por minha vez planejava todos os golpes que daria na criatura. Estava tão concentrado nos meus planos que não percebi o sangramento em meu nariz. Lá estava eu novamente enfraquecendo diante de quem não moveu um dedo pra cima de mim.
Estava já perto de desmaiar quando atentei que ainda usava os óculos. Eu achava que não ia conseguir muito mais, então removi o que prendia minha interferência e olhei a criatura na face. Sei que se ele tivesse olhos estaria olhando profundamente nos meus.
Sua atitude mudou, ele agora parecia tentar entender quem era que o olhava exatamente como ele olhava. Ele agia como um animal que é lançado contra uma criatura que o ameaça e se sente ameaçado.
Era minha vez! Aparentemente ao liberar minha interferência senti redução no efeito da interferência do Slender sobre mim. Me permiti um impulso em direção a criatura, corri já cerrando meu punho para dar um soco, quando ele apenas sumiu. Por sorte o que tenha quebrado a porta, espalhou muitos cacos de vidro pelo chão. Ouvi um pedaço se quebrando e me joguei a tempo suficiente de evitar um tentáculo, mas não o suficiente de evitar o segundo, quem me acertou em cheio no ombro me fazendo cair. Tentei levantar mas logo outro tentáculo acertou-me na face quase me desmaiando. Pude sentir o último tentáculo envolver meu pescoço e erguer meu corpo, me sufocando.

Num último suspiro, agarrei sua gravata. Qual não foi minha surpresa em sentir um tentáculo perfurar meu ombro como um tiro certo. O grito que dei foi absurdamente alto, e só naquele momento me lembrei do que aconteceu na época de Landaw. O grito intensificou minha interferência, que o assustou e o fez desaparecer novamente.
Estava lá largado no chão da mansão, sangrando pelo nariz e pelo estrago que havia agora em meu ombro. Foi quando pude ouvir sirenes e pessoas se aproximando. Era uma equipe da Fundação indo me resgatar.

Acordei já no conforto do lar. Uma maca na enfermaria da SCP. Dessa vez nem Anna nem Guurg vieram ao meu encontro. Apenas um grupo de cientistas e a Diretoria. Perguntei o que havia acontecido e o Presidente na minha cara respondeu que eu devia ter pego a ficha de arquivo errada em cima da mesa. O detalhe é que só havia uma única ficha. Algo estava muito errado com essa história, mas até conseguir o que eu queria não iria sair de lá.
Pedi para me mandarem numa missão em caça ao Slender e pela primeira vez eles concordaram. Disseram que não havia interesse em se aproximar do Slender antes, mas devido a uma quebra no equilíbrio, algumas criaturas estavam se comportando estranhamente. Só não tinha condição de fazer nada naquele momento.
A dor que sentia era diferente de uma dor normal. Ela doía num lugar não palpável, como se o medo e o terror pulsassem dentro de mim. Mais resultados de exames chegaram. O diagnóstico foi terrível: o contato direto e prolongado com o Slender fez com que aquela doença piorasse consideravelmente. Nem os comprimidos Panacea (SCP-500) seriam eficazes contra aquilo. Ou seja, no fim das contas eu estava para morrer. Legal isso não?
Já desestimulado com tudo aquilo, decidi me manter na cama e apenas esperar os dias passarem, até algo me acontecer.
O que eu mais estranhava era que todos diziam que Anna e Guurg estavam lá, mas em momento nenhum recebi uma visita deles. Certo dia um jovem que se apresentou a mim como Dark Hunter me deu um livro para passar o tempo, o livro se chamava: Entendendo o funcionamento do SCP-2559. E haviam gatos na capa.
Perguntei a ele que piada era aquela e ele me disse que além de achar que olhar animais fazia as pessoas se sentirem melhor, disse que de onde menos se espera vem a ajuda. Não dei ouvidos.
Alguns dias após estava com sangramentos fortes pela boca e nariz. O lugar onde o tentáculo havia me acertado também minava sangue. Acho que estava perto da minha hora. Pode parecer piada mas peguei o livro e comecei a ler e ver as fotos dos animais. Era isso! Talvez houvesse algo mais nessa dimensão, a minha cura poderia estar lá!
Me arrastei até a máquina para ligá-la tentando não chamar atenção de ninguém. Segui os procedimentos para ligar a máquina que tinha um contêiner onde os objetos eram teleportados. Ao ligar ela fez um barulho muito alto, quase ensurdecedor, gritei de dor nos ouvidos e mais uma vez outra dose de interferência foi liberada afetando o funcionamento da máquina. Eu achei que não era nada demais. Me preparei para ir ao contêiner  quando em cima apareceu a mensagem na tela: Teleporte Concluído!

Me aproximei do contêiner o suficiente para ver sua porta começar a abrir por dentro...

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

# relato 9: Só um servo

Já havia se passado uma semana desde o ocorrido.
Não houve um único dia em que meu corpo inteiro não doesse, nem que minha cabeça ficasse formando aquele símbolo em tudo que eu olhava.
O que estava errado comigo. O que eles estavam tentando fazer comigo? O que havia sido aquilo que me arremessara tão longe?

Guurg e Anna vieram me visitar algumas vezes, Anna era melhor em camuflar sentimentos, mas Guurg tinha nítido em sua cara a preocupação. A pessoa que o tinha trazido até aqui, agora estava impossibilitado de o dar acompanhamento.
Um dos médicos da Fundação veio me avisar que eu passaria por uma bateria de exames e me dariam alguma resposta.
Mais dois dias de espera. Dessa vez as dores diminuíram consideravelmente, em compensação meus olhos queimavam.
Os resultados finalmente chegaram.
Realmente eu tinha a habilidade dos proxys , e sua doença também me acompanhava. O fato de ter esforçado meu corpo com uma habilidade de Proxy também tinha agravado momentaneamente os sintomas da doença.
Eu teria que acostumar meu corpo até que esses sintomas reduzam, ou que eu me acostume com eles. Afinal se um esforço de meio segundo me deixou uma semana de cama, nem quero imaginar o que pode me acontecer se eu tentar usar por mais tempo.

No fim eu era só um servo dele. O Slender podia não ter controle sobre minha mente, mas meu corpo estava sujeito a sua doença. Pensando melhor agora, o que eu fiz durante o exercício se compara ao meu primeiro encontro com aquela criatura. O que mais seria eu capaz de fazer igual a ele?
Pra completar acharam mais um inconveniente: a minha interferência era diferente, ela se acumulava no meu corpo e periodicamente eu teria que “libera-la” senão as consequências a meu corpo poderiam ser mortais.
Se eu usasse, ficava passando mal, se eu não usasse poderia até morrer.

Antes que minha cabeça pudesse gerar mais ideias (ou dores) o agente que supervisionava a divisão Caçadores do Medo veio me retirar do quarto pra me enviar a minha próxima missão!
Ainda bem. O ruim dessa missão é que não deixaram o Guurg ir comigo, disseram que essa era solo e que ele estaria atarefado demais. Na verdade nem me deixaram o ver antes de sair. O resumo da missão me foi entregue, mas confesso que a ansiedade em sair daquela cama me fez esquecer de lê-lo.
Fui deixado próximo a uma mansão, muito bonita, próxima a uma floresta. Tratei de me situar logo na varanda do 1º andar. A casa estava sem energia, mas tenho certeza de ter passado por sangue em vários pontos dela.
Quando eu já ia começar a fuçar os arquivos do resumo ouvi um barulho. Era uma porta sendo empurrada, pela altura acho que ela deve ter sido derrubada.
Ouvi então aquele grunhido que penetrou meus ouvidos e mente causando um calafrio. Senti um aperto no peito.
Abri rapidamente o arquivo só para conseguir enxergar o nome B.O.B.

Me virei para trás quando...