quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

# HOME 12: Loop

Assim seguiram minhas primeiras noites. Treinamento intensivo. O garoto chamado Night era bem esforçado e seguia os protocolos, além de aparentar certo nervosismo perto de mim. Embora eu fosse uma pessoa normal agora, tratei de reduzir meu nível para acompanhar o garoto.
E durante os dias minha vida estava passando de algo desconfortável a uma rotina. Acordava cedo para dar uma corrida. Durante o dia procurava algum trabalho local e a noite retornava para ser questionado quanto a minha sanidade mental.
Aos poucos me pegava distante de tudo aquilo que eu fui na SCP. Era só mais uma pessoa comum agora. Meus dias estavam ocupados. Com 1 mês de volta em casa, já havia arrumado um trabalho como biólogo novamente. Havia sido contratado para ser auxiliar de um professor que estava estudando a fisiologia do cérebro humano. O estranho é que esse foi o único trabalho que eu não fui atrás.
Fui apresentado ao professor responsável e ele parecia uma pessoa tranquila. Eu o acompanhava em suas aulas e em estudos de laboratório. Muitos apareceram para absorver meu conhecimento, outros para iniciar uma amizade, estava rodeado de pessoas e ainda assim só. Eu era algo único em meio a todas elas. Ou não? Será que apenas as lembranças ficariam e eu deveria me acostumar aquela rotina. As coisas estavam em tal ponto que logo passei a não aparecer nos treinos noturnos. Passava meu tempo em casa estudando ou até mesmo saindo com a turma de alunos. O engraçado é que antes da SCP eu nem era assim, mas tudo que passei me deu certa confiança para assumir uma personalidade firme.
Certa noite estávamos em um grupo andando pela praça da cidade, quando pude perceber em um ponto cego, Night me encarando. Já estava determinado a ficar com aquela vida, então pedi licença ao pessoal e me dirigi a floresta. Night tentou brigar comigo, me chamando de irresponsável, mas eu já não me considerava parte daquele mundo, então fui dando as costas para ele e saindo.
Ele frustrado e nervoso com a informação que terminaria levando a base, tentou me impedir, puxando a minha camisa. Péssima decisão. Eu podia não ter mais minhas interferências, mas as habilidades permaneciam. Desferi um soco direto em sua face fazendo ele cair ao chão, após tropeçar num galho no chão.
Mandei o garoto sumir da minha frente e por alguns momentos me lembrei como era ser o Master Hunter com a interferência. A cara que o garoto fez lembrou muito a olhar de Guurg no primeiro encontro...
Pedi para que ele fosse embora e ele foi. Retornei ao grupo e despistei minha saída.
Em pouco tempo eu era alguém normal. Minha família estava me tratando bem, tinha meu trabalho e minhas atividades. Em pouco tempo eu era Orion, mais um cara comum. E não era só pelas minhas atividades, mas minha mente também estava mudando.

Alguns meses se passaram e as pesquisas do Professor iam muito bem. Eu já estava bem enturmado e passava meus dias estudando. Até que foi anunciado uma excursão da qual teria que participar. Iríamos visitar uma reserva florestal. A mesma onde tudo havia começado.

sábado, 11 de janeiro de 2014

# HOME 11: A Noite

Casa.
Quanto tempo eu não ouvia essa palavra.
Será que aquele lugar ainda seria minha casa?
Aquelas pessoas ainda seriam minha família?
Quem sou eu agora? O Agente Master Hunter ou um rapaz comum?
Sem muito tempo para pensar, rapidamente minhas malas estavam prontas. Na verdade a mala era a mesma que havia ido comigo até o Hospício Burnhills onde estive internado. Estava intacta. As únicas roupas que eu tinha usado desde que tinha chegado aqui eram umas roupas brancas e meu uniforme de caça.
Perguntei a Dark que estava no quarto qual a desculpa que seria usada para eu voltar para casa. Ele mencionou algo como eu estar reabilitado para a sociedade. Na verdade por mais que eu fizesse perguntas, não conseguia prestar atenção em resposta alguma. Seria aquele meu fim? Uma pessoa comum? Dark tocou meu ombro e fez sinal para que fossemos em direção a entrada da fundação.
Na porta estava Guurg, finalmente eu o via de novo, mas ele não fez recepção positiva para mim. Estava apertando a mão de todos que se encontravam ali e ao chegar nele o aperto foi forte e discretamente acompanhado de um bilhete pequeno escondido. Tratei de jogá-lo rapidamente no bolso e seguir em frente. O próximo era o Diretor, fez uma despedida dramaticamente sarcástica e logo me apontou a porta. O ultimo da fila era Dark. Não tive um mínimo de tempo para criar um vinculo com ele, mas ele parecia me conhecer há anos. Estendi minha mão para ele e fui devolvido com um abraço. Ele rapidamente sussurrou em meu ouvido: “Não se preocupe com nada nesse tempo, a Noite estará de olho em você!”.
E lá ia eu entrando no carro. Voltando ao que um dia eu chamei vida. Hoje me parece mais um castigo. Tentei puxar conversa com o motorista, mas não houve resposta. Decidi dormir um pouco.
Acordei algumas horas depois. Já estava reconhecendo aquele lugar. Era meu bairro. As casas, os rostos, tudo parecia reaparecer em minha mente como um flash. Paramos em frente a minha casa. O motorista mandou descer rápido e assim o fiz. Rapidamente ele deu a volta com o carro e deu uma buzinada antes de dar partida no carro e logo sumir no fim da rua.
Ali estava eu parado diante do lugar que chamei um dia lar, sem ter ideia absoluta do que fazer. Meus pensamentos mais uma vez foram interrompidos pelo grito da minha mãe: “Ele chegou!” ela dizia enquanto me abraçava e chamava as outras pessoas da casa para me receber.
Fomos entrando e havia um lindo jantar para mim me aguardando. Pedi licença antes da refeição para ir ao meu quarto. Coloquei a mala sobre a cama e a abri. Algo estava errado. Por que minha farda de caçador e meus óculos estavam ali se eu não os coloquei? Só podia ser obra do Dark. Talvez um presente, uma lembrança, memória. Meu quarto estava da mesma forma que o havia deixado. De repente estava me sentindo em casa. Ouvi minha mãe chamando para jantar. De repente lembrei que tinha um nome. Para não ser identificado vou usar Orion como meu nome fictício.
Desci, sentei a mesa e começamos a comer. O silencio reinava e a única coisa que podia perceber era a troca de olhares entre meu pai, minha mãe e meu irmão. Do nada começaram as perguntas do gênero: Como foi sua estadia na clinica?
Eles usaram o termo clínica para não quebrar qualquer chance que tivessem de manter algum contato comigo. Minha vontade era dizer tudo que passei na SCP, mas além de entregar um segredo de Estado, estaria garantindo minha volta a Burnhills. Me detive a responder “normal, remédios, gente louca e só.”. Todos se calaram. Terminei minha refeição e disse que iria dar uma volta pela praça e depois voltaria.
Pus uma calça, um casaco e um tênis e logo saí. Fui andando com meu andar de caçador, acelerado, silencioso, e pude perceber olhares para mim. Vamos Orion, pareça normal, pensei. Desacelerei e continuei, sempre com a sensação de estar sendo observado. Cheguei a praça, tinha um pequeno playground e uma floresta. Lembrei que costumava ter um lugar secreto naquela floresta para praticar e condicionar meu corpo. Fui ao tal lugar. Ufa, estava lá ainda e a sensação estava lá também.
Não sabia se era amigo ou inimigo, então arrisquei. Não tinha minha interferência, mas ainda tinha um bom ouvido. Fechei os olhos e ouvi as folhas balançando e batendo. Espere, havia um som que não batia com os outros. Em poucos segundos o som se aproximou na minha lateral. Meu instinto me jogou em um pequeno passo para trás e logo avancei a mão para afastar seja lá o que fosse. Era uma tora de madeira amarrada num galho por uma corda.
Logo ouvi uma voz: “Então você é o Master Hunter, certo?”. Um rapaz jovem saiu de trás de um arbusto e logo se identificou:
“Sou o Night Hunter e estou aqui para fazer sua segurança secreta e dar um treinamento para você não perder seu desempenho.”.

Night Hunter! Noite! Dark Hunter, seu esperto, ainda vou te agradecer por isso ao vivo!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O Paradoxo do Caçador parte final

Não demorou muito o procedimento cirúrgico do Dood, afinal nem precisou de anestesias. No meu caso foi um pouco mais complicado devido a grande perda de sangue. Acordei algum tempo depois e vi uma face familiar próxima a mim. Era Dood, só que parecendo gente desse vez! Ele chegou perto e me agradeceu pelo rim, do seu jeito bem cientifico e em seguida se retirou do quarto. Parei para pensar, na luta com Eyeless Jack em momento algum eu usei a interferência nem nenhuma outra habilidade da doença. Isso era estranho. Aquela habilidade era minha única chance de fazer algo em uma luta e dessa vez nem me lembrei dela.
Meus pensamentos foram interrompidos com a entrada de Dark no quarto. Ele parecia sempre empolgado e com respostas para tudo. Conversamos um pouco sobre algum assunto qualquer, e tudo estava indo até bem demais, até que as luzes vermelhas se acenderam. Algo estava acontecendo. Num impulso rápido me levantei da cama para ver o que estava acontecendo e mais rápido que eu tinha sido Dark em me segurar para não fugir.
Ele falou que eu não devia me esforçar, mas consegui convencê-lo a me levar até a confusão. Qual não foi minha surpresa em achar Dood envolvido no meio dos gritos, ao que me lembro ele parecia tentar abrir algum SCP perigoso. Pedi para falar com ele e em novo tom ele me respondia:
“Dood, que tá acontecendo?” perguntei.
“Calado, agora eu posso fazer tudo que eu quero e vou encerrar essa organização de uma vez, você não tem condições de me impedir!” respondeu prontamente. Aquele era o real Dood.
“Olha aqui, tem um pedaço meu em você e não quero que ele seja envolvido nas suas obras malignas!” Eu sei, a frase foi péssima, mas pra um cara que havia perdido sangue, foi o melhor que saiu.
Por pior que fosse a situação, todos esboçaram um sorriso.
“Parece que você tem um método bem diferente de conseguir as coisas agente Hunter!” Dood respondeu. Ele podia ser o pior de todos, mas sua característica chave era a ética, uma ética de quem a aprendeu da pior forma. “Ok, vamos providenciar sua cura!”.
Ele mencionou algo como Bomba de Radiação Extrema,e como sempre em seguida comecei a desfalecer novamente.
Tive alguns lapsos de lucidez em que pude ouvir frases como:
“Ele não vai aguentar.”
“Chamem o resto da equipe.”
“Perdemos ele...”
Pude abrir meus olhos, ou melhor meu olho. Não sentia metade da minha face, como se ela não estivesse lá. Do outro lado via Dood com um olhar preocupado.
Consegui ler seus lábios e o percebi dizendo algo como: “Tem que ser agora senão não tem mais volta.”.
Queria saber o significado daquilo, mas logo percebi que meu corpo estava amarrado a uma maca que se erguia à vertical me deixando ereto.
A próxima coisa que me lembro eram flashes rápidos e muito claros de luzes coloridas, ruídos, sentia como se fosse explodir de tanta pressão.
Do nada tudo parou e pude voltar a enxergar. Havia uma névoa densa que começou a desaparecer como se estivesse sendo sugada por meus olhos.
Pude ver Dood e ao seu lado o Diretor da SCP com um sorriso de canto de boca.
Dood me fez um gesto para retirar os óculos. Acho que ele não tinha noção do perigo que aquilo representava, mas ainda assim o fiz. Nada aconteceu, eu podia ficar sem os óculos!
Espera aí, eu não sabia como ativar a interferência, ela estava lá e saia quando eu ficava de olhos nus. E o pior é que parecia que isso era o que o Diretor queria.
Passamos alguns minutos falando sobre isso e a sua ultima frase chocou a todos os presentes:
“Então agente, pelo visto você não pode fazer mais sua mágica, portanto não pode atuar em campo. Não me resta muito a fazer.”.

Todos nos entreolhamos por alguns minutos, até que ele com um sorriso desferiu suas palavras finais:

“Arrume suas malas, você está voltando para casa!”.