Assim seguiram minhas primeiras noites. Treinamento
intensivo. O garoto chamado Night era bem esforçado e seguia os protocolos,
além de aparentar certo nervosismo perto de mim. Embora eu fosse uma pessoa
normal agora, tratei de reduzir meu nível para acompanhar o garoto.
E durante os dias minha vida estava passando de algo
desconfortável a uma rotina. Acordava cedo para dar uma corrida. Durante o dia
procurava algum trabalho local e a noite retornava para ser questionado quanto
a minha sanidade mental.
Aos poucos me pegava distante de tudo aquilo que eu fui
na SCP. Era só mais uma pessoa comum agora. Meus dias estavam ocupados. Com 1
mês de volta em casa, já havia arrumado um trabalho como biólogo novamente.
Havia sido contratado para ser auxiliar de um professor que estava estudando a
fisiologia do cérebro humano. O estranho é que esse foi o único trabalho que eu
não fui atrás.
Fui apresentado ao professor responsável e ele parecia
uma pessoa tranquila. Eu o acompanhava em suas aulas e em estudos de
laboratório. Muitos apareceram para absorver meu conhecimento, outros para
iniciar uma amizade, estava rodeado de pessoas e ainda assim só. Eu era algo
único em meio a todas elas. Ou não? Será que apenas as lembranças ficariam e eu
deveria me acostumar aquela rotina. As coisas estavam em tal ponto que logo
passei a não aparecer nos treinos noturnos. Passava meu tempo em casa estudando
ou até mesmo saindo com a turma de alunos. O engraçado é que antes da SCP eu
nem era assim, mas tudo que passei me deu certa confiança para assumir uma
personalidade firme.
Certa noite estávamos em um grupo andando pela praça da
cidade, quando pude perceber em um ponto cego, Night me encarando. Já estava
determinado a ficar com aquela vida, então pedi licença ao pessoal e me dirigi
a floresta. Night tentou brigar comigo, me chamando de irresponsável, mas eu já
não me considerava parte daquele mundo, então fui dando as costas para ele e
saindo.
Ele frustrado e nervoso com a informação que terminaria
levando a base, tentou me impedir, puxando a minha camisa. Péssima decisão. Eu
podia não ter mais minhas interferências, mas as habilidades permaneciam.
Desferi um soco direto em sua face fazendo ele cair ao chão, após tropeçar num
galho no chão.
Mandei o garoto sumir da minha frente e por alguns
momentos me lembrei como era ser o Master Hunter com a interferência. A cara
que o garoto fez lembrou muito a olhar de Guurg no primeiro encontro...
Pedi para que ele fosse embora e ele foi. Retornei ao
grupo e despistei minha saída.
Em pouco tempo eu era alguém normal. Minha família estava
me tratando bem, tinha meu trabalho e minhas atividades. Em pouco tempo eu era
Orion, mais um cara comum. E não era só pelas minhas atividades, mas minha
mente também estava mudando.
Alguns meses se passaram e as pesquisas do Professor iam
muito bem. Eu já estava bem enturmado e passava meus dias estudando. Até que
foi anunciado uma excursão da qual teria que participar. Iríamos visitar uma
reserva florestal. A mesma onde tudo havia começado.